O Escudo e a Lança Invisível: Como a China Poderia Neutralizar Frotas e Bases no Pacífico Sem Entrar em Risco Direto
No complexo tabuleiro de xadrez do Indo-Pacífico, a China tem desenvolvido uma estratégia que reescreve as regras de um potencial conflito.
Para o detetive estratégico, a ascensão do poder de mísseis de Pequim não é apenas uma demonstração de força, mas um plano meticuloso para neutralizar adversários como Estados Unidos, Japão, Austrália, Coreia do Sul, Filipinas e Canadá, sem a necessidade de um confronto direto e de alto risco para suas próprias forças armadas.
A chave está em sua estratégia de antiacesso/negação de área (A2/AD), executada por um arsenal de mísseis diversificado e letal.
O Conceito A2/AD: Manter o Inimigo à Distância
A doutrina A2/AD chinesa visa criar uma "bolha" de negação de acesso em torno de suas zonas de interesse, como o Mar da China Meridional e Taiwan.
O objetivo é simples: tornar proibitivamente caro, arriscado ou impossível para forças militares adversárias (especialmente os EUA e seus aliados) operar dentro dessas áreas.
E a ferramenta principal para isso? Seus mísseis.
A Estratégia de "Ataque Massivo e em Camadas"
A China possui uma variedade de mísseis balísticos e de cruzeiro projetados para atacar alvos em terra e no mar a longas distâncias.
O plano de neutralização de frotas e bases aliadas não dependeria de uma batalha naval ou aérea tradicional, mas de uma série de ataques coordenados e massivos:
Saturação de Defesas Aéreas e Radares:
Mísseis Balísticos de Curto e Médio Alcance (SRBM/MRBM) como DF-12, DF-15 e DF-16:
Paralisação de Infraestrutura Crítica:
Após a supressão inicial, os mesmos mísseis (DF-12, DF-15, DF-16) seriam direcionados a pistas de aeroportos, portos, depósitos de combustível, hangares de aeronaves e instalações de reparo naval em bases como Yokosuka (Japão), Pearl Harbor (EUA) ou bases na Austrália.
Ao destruir essas infraestruturas, a China impediria o lançamento de aeronaves, o reabastecimento de navios e a reparação de equipamentos danificados, essencialmente imobilizando as forças aliadas antes mesmo que pudessem se deslocar para a zona de conflito.
Neutralização de Grupos de Batalha de Porta-Aviões:
Esta é a função estelar do DF-26, o "matador de porta-aviões", com alcance de até 4.000 km. Equipado com uma ogiva hipersônica manobrável, o DF-26 é projetado para atingir navios em movimento, especificamente grupos de ataque de porta-aviões.
Complementando-o, os mísseis antinavio supersônicos e hipersônicos da família YJ (como YJ-12, YJ-17, YJ-19, YJ-20 e YJ-21), lançados de bombardeiros H-6N ou de plataformas terrestres/navais, representariam uma ameaça multifacetada. A velocidade de Mach 2.5 a Mach 4 do YJ-12, ou a capacidade hipersônica dos modelos mais recentes, encurtaria drasticamente o tempo de reação das defesas navais, tornando a interceptação extremamente difícil.
Um ataque coordenado de múltiplas direções e velocidades poderia saturar as defesas de um grupo de porta-aviões, garantindo que mísseis penetrasse e causasse danos catastróficos, removendo essa capacidade vital dos EUA e aliados.
Ameaça a Alvos Fixos Distantes e Comando e Controle:
Mísseis de Cruzeiro Lançados do Ar (CJ-10/CJ-12) do H-6N: Com alcances de 1.500 a 2.000 km, estes mísseis poderiam atingir alvos fixos mais distantes, como centros de comando e controle, instalações de comunicação ou grandes depósitos logísticos, perturbando a coordenação e o fluxo de informações das forças aliadas.
JL-1 (Míssil Balístico Lançado do Ar do H-6N): Com um raio de ataque de até 8.000 km, o JL-1 poderia atingir alvos de alto valor em praticamente qualquer lugar do Pacífico Ocidental, garantindo que nenhuma base aliada estaria completamente segura, mesmo as mais afastadas.
A Vantagem Hipersônica: O Pesadelo dos Defensores
O DF-17, o sistema de veículo planador hipersônico da China, é um divisor de águas.
Com alcance de 2.500 km e velocidade superior a Mach 5, sua capacidade de manobrar lateral e verticalmente no voo torna-o virtualmente impossível de rastrear e interceptar para os sistemas de defesa antimísseis atuais.
Seus alvos seriam precisamente as infraestruturas costeiras e bases na periferia da China.
Ao empregar o DF-17, Pequim poderia desferir golpes cirúrgicos e devastadores em questão de segundos, minimizando o tempo de decisão do adversário a quase zero e anulando as defesas que dependem de trajetórias balísticas previsíveis.
Sem Risco Direto para as Forças Chinesas
A beleza (do ponto de vista chinês) dessa estratégia é que ela permite uma neutralização à distância.
Os mísseis seriam lançados de plataformas móveis em terra, de bombardeiros voando em espaço aéreo seguro ou de submarinos escondidos nas profundezas.
Isso minimizaria a necessidade de engajamento direto de navios, aeronaves ou tropas de superfície chinesas contra as forças aliadas tecnologicamente avançadas.
As Forças Armadas Chinesas estariam operando a partir da segurança de seu território ou de águas controladas, enquanto desmantelam as capacidades de projeção de poder de seus adversários.
Uma Nova Era de Confronto Remoto
A China não está apenas alcançando; está redefinindo a guerra remota.
Seu vasto e diversificado arsenal de mísseis, especialmente os hipersônicos, é uma ferramenta estratégica que pode, neutralizar as frotas e bases militares dos EUA, Japão, Austrália, Coreia do Sul, Filipinas e Canadá no Pacífico sem que as forças chinesas precisem entrar em um combate direto de alto risco.
Essa capacidade inverte a vantagem tecnológica que o Ocidente desfrutou por décadas e força uma reavaliação profunda das estratégias de defesa e projeção de poder no Indo-Pacífico.
O "Poder do Dragão" agora se manifesta em foguetes, e esses foguetes prometem uma nova era de confronto onde a distância e a velocidade podem ser os maiores triunfos
